quarta-feira, 1 de julho de 2009

quarta-feira, 3 de junho de 2009
























AUTOPSICOGRAFIA


O poeta é um fingidor.


Finge tão completamente


Que chega a fingir que é dor


A dor que deveras sente.


E os que lêem o que escreve,


Na dor lida sentem bem,


Não as duas que ele teve,


Mas só a que eles não têm.


E assim nas calhas da roda Gira,


a entreter a razão,


Esse comboio de corda


Que se chama o coração.








Fernando Pessoa